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A rodovia da morte, a construtibilidade em Projetos e a rotina de um país sem planejamento.

Tempo de leitura: 4 minutos

Como muitos sabem, carrego um pouco de minério nas veias. Morei por um bom tempo em Itabira do Mato Dentro-MG, terra de Drummond. Já na juventude conheci a BR 381, na maior parte das vezes, em viagens para a disputa de campeonatos de basquete. Transporte? Ônibus novos, ônibus velhos, carro do treinador, até kombi. Não demorei muito para perceber os problemas e perigos da rodovia. Em um trecho de 100 KM, nada menos que 200 curvas, bem sinuosas. Acidentes? Presenciei vários, por sorte, não como protagonista.

A tão sonhada duplicação finalmente saiu do papel em 2014. A estrada virou um canteiro de obras, sendo a empreitada dividida em lotes, assim distribuídos:

 

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O Consórcio Isolux /Corsán/Engevix é responsável pelos lotes 1, 2, 3.1 e 6. Creio que tenha ouvido falar bastante sobre a Engevix nos últimos dias, ou não? Bom, confusões à parte, vamos ao que interessa, o lote 6.

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Na última sexta, 27/03, uma notícia sobre este lote me chamou atenção:

Erro de Planejamento trava obra na 382

Na hora pensei nos problemas “tradicionais”: acabou o dinheiro, estourou o tempo, escolha de materiais ou fornecedores inadequados, encontraram outro sítio arqueológico. Não, desta vez o suposto erro me surpreendeu.

“Conforme o relatório, ainda não foi encontrada uma solução técnica para a execução dos trabalhos sem interrupção total do tráfego na rodovia, o que causaria uma série de impactos negativos aos moradores e a quem trafega pelo local diariamente.Por isso, o Dnit estaria conversando com o consórcio formado pelas empresas Isolux/Corsan/Engevix, responsáveis pelo trecho, para encontrar uma saída”

Pois é. Bem simples. A obra foi iniciada sem uma definição se seria necessária ou não uma interrupção total do tráfego na rodovia. Esta pequena definição, teoricamente,  alteraria toda a forma como o projeto deveria ser planejado e executado. Impactos em todas as áreas do projeto. Lembrei-me prontamente de uma excelente palestra, como sempre,  do Professor João Carlos Boyadjian, sobre a bendita Construtibilidade.

Mas o que é Construtibilidade?

“É uma prática aplicada às facilidades de produção de um projeto. É um método sistemático que permite a equipe do projeto otimizar o uso de conhecimentos e das experiências anteriormente adquiridas em construções do mesmo tipo, no planejamento, suprimento, fabricação e instalação para alcançar os objetivos gerais do projeto em questão, sua segurança e integridade industrial e preservação do meio ambiente.”

Marcos Fabiano Rollim da Silva Oliveira e Paul Dinsmore

E por que ela é importante em Projetos Complexos?

Projetos Complexos requerem grande capacidade do gestor em associar as áreas de conhecimento da gestão de projetos tradicional e adaptá-las ao ambiente de um projeto cheio de incertezas com alto grau de interação política.

Quais os benefícios de se trabalhar a Construtibilidade?

  • Melhor análise do projeto a ser executado
  • Redução de custos
  • Economizar tempo na construção
  • Redução do número de solicitações de mudança
  • Aumento da segurança nas instalações
  • Preservação dos requisitos ambientais

Em termos práticos, trabalhar a Construtibilidade em um projeto passa por uma exaustiva avaliação das opções e possibilidades disponíveis na condução de um projeto. Por exemplo, vou participar do próximo Simpósio Brasileiro de Redes de Computadores, em Vitória-ES, agora em maio. Quais as minhas opções?

  1. Quanto à viagem: Posso ir de avião, ônibus, carro ou trem.
  2. Quanto à estadia: Posso ficar em um hotel, albergue ou na casa de parentes/amigos
  3. Quanto ao evento: Posso participar apenas da programação básica ou a básica mais vários minicursos

Apesar da disponibilidade de alguns vôos bem em conta (R$ 46,00 o trecho), gostaria de conhecer os novos vagões da Ferrovia Vitória-Minas, o famoso trem da Vale. Ônibus e carro, nem pensar, seria overdose de BR 381/262.

Como tenho amigos e familiares na cidade devo dar um pouco de trabalho a eles e aproveitar a viagem para revê-los.

Devo escolher apenas um dos minicursos oferecidos.

As escolhas possíveis acabam desenhando como devo planejar minha viagem. Todas tem, por exemplo, implicação de custos, prazos, riscos e aquisições/compras. Assim vou montando a Construtibilidade de meu projeto.

Enquanto isso a duplicação da 381, no lote 6, deve parar por este pequeno detalhe: É impossível continuar sem a interrupção total do tráfego na rodovia.  Como proceder agora? Construir um desvio?

Vamos assim vivendo a saga de um povo que prefere recorrer à criatividade durante a execução do projeto do que planejar corretamente nos momentos devidos.

Ah, mais um acidente com vítima fatal na Rodovia da Morte, por pouco não presenciei mais um, voltei mais cedo hoje.